[RPG] Alojamento

A cientista caiu no chão com a graça e a leveza de um mamute usando patins em plena areia movediça. Arrumou seus cabelos e seu vestido (Aproveitando para recolher um pouco da sua dignidade que deveria estar no piso após a queda) enquanto escutava o falatório incessante de Casus e... Do seu cachorro... Ou cachorro da fulana histérica [Lune]... Enfim, do garotinho ruivo que iria ensiná-los. Não podia negar que a parte sobre não precisar dormir nem comer a interessou MUITO. Em primeiro lugar, se tivesse uma habilidade daquele tipo não teria parado no circo dos horrores que é conviver com essa gente.

Olhando em volta, teve que admitir que aquele lugar era... Surreal. Nunca em sua vida viu tanto luxo junto, talvez, no máximo, os hotéis 5 estrelas que a faculdade pagava quando ia a congressos, encontros, projetos de pesquisas, feiras de inovações ou palestras, mas não se comparava com aquilo.

Lembraria de conferir se os computadores possuíam acesso a internet do mundo dos vivos. Seria interessante ver os avanços científicos desde a sua morte.



"Pelo menos não vamos precisar dividir os quartos e... Iguais ao que tínhamos na Terra?" Piscou levemente os olhos enquanto sua boca discretamente aberta se curvava num pequeno sorriso. Tudo bem que ficaria bem mais feliz se tivesse acesso ao seu laboratório completo, mas só de ter seu quarto ali já melhorava a situação em cerca de 25,3%!

Mordeu os lábios tentando esconder o sorriso que se formou ao imaginar estar em contato com suas fórmulas, anotações, teorias, drogas, seus cálculos, artigos, livros, materiais de pesquisa... Resumindo: Seus companheiros de tantos de tantos anos que fizeram da sua vida uma das melhores do mundo, com toda a certeza. Eles não a julgavam, não tinham senso de moral e ética, não perguntavam, não falavam. Apenas estavam ali para quando precisava deles.

Mas antes de tudo tinha de se certificar de uma coisa. Não era de cometer o mesmo erro duas vezes e, embora soubesse que as consequências não podiam ser tão trágicas quanto na primeira vez, ainda assim precisava saber em que estava se metendo. Embora a ideia de perguntar algo tão tolo definitivamente não a agradasse.

Respirou fundo, engoliu o orgulho e se preparou para - provavelmente - uma resposta bastante óbvia e/ou que talvez não fizesse sentido nenhum. Caminhou sem muita animação em direção a Casus e perguntou a anja em um tom no qual não era possível definir o que estava sentindo no momento, mas Lissandra sabia que, se a mulher conhecia a causa morte de cada um, iria entender a razão de sua pergunta.

-Casus, você falou que não precisamos comer nem dormir, mas ainda assim nos aconselhou a descansar porque é necessário para a alma. Me diga, o que acontece com a nossa alma se não descansarmos? E se o corpo no mundo humano for acostumado a não descansar, mesmo assim a alma precisa de descanso? - Tentou fazer a pergunta da forma mais didática possível, embora se sentisse um tanto idiota com tudo aquilo.

Era óbvio que "acostumado a não descansar" não era bem a expressão certa para definir a situação do corpo de Lissandra, "forçado a trabalhar até a exaustão" talvez soasse um pouco mais realista, mas na mente distorcida da cientista, seus limites como ser humano foram expandidos e superados há muito tempo.

Mesmo que sua consciência agora a insistisse em lembrar do maldito erro de dosagem, o que a levou a fazer mais uma pergunta:

-Por sinal, substâncias como cafeína e metanfetamina têm o mesmo efeito em almas e humanos vivos?